segunda-feira, 29 de junho de 2015

Os movimentos migratórios da Gândara para a Península de Setúbal no século XIX – a origem de Pinhal Novo:

Nota do autor: o texto que se segue é da autoria da Sra. Célia Gomes, leitora deste blog, a quem agradeço a amabilidade de ter aceite o meu convite para o escrever. A Sra. Célia Gomes, residente na Freguesia de Pinhal Novo (no Concelho de Palmela), descende de antepassados Gandareses que se fixaram na Península de Setúbal no século XIX. 
É também a autora do interessante Blog Origens Caramelas, Raízes Gandaresas (clicar para entrar no blog), (também disponível no Facebook (clicar para entrar)), onde apresenta os resultados das suas pesquisas sobre os percursos de vida de alguns desses Migrantes Gandareses do passado. Na leitura deste blog, o Gandarez da actualidade irá certamente descobrir apelidos e locais de origem que lhe são familiares!
 
Os movimentos migratórios da Gândara para a Península de Setúbal no século XIX – a origem de Pinhal Novo:
 
No distrito de Setúbal, o termo “caramelos“ denomina os trabalhadores oriundos da região gandaresa que no passado se deslocavam para essa região sazonalmente, especialmente para realizar trabalhos rurais; com o decorrer do tempo, este significado alargou-se também aos seus descendentes. Não se conhece com precisão a origem desta significação da palavra “caramelos“; há quem defenda que assim se chamavam porque os jornaleiros gandareses chegavam em pleno Inverno, no tempo do gelo, que antigamente também se designava por caramelo, regressando às suas aldeias após as colheitas, no final de Junho; há também quem afirme que o vocábulo se deve à cor pálida destes trabalhadores, devido às “febres e terçãs“ de que padeciam cronicamente, provavelmente devido às águas das muitas lagoas da Gândara ou em consequência dos trabalhos nos campos de arroz. Da mesma forma, não é possível determinar cronologicamente o início dessas migrações sazonais. No entanto, um conceituado historiador local do concelho de Palmela, António de Matos Fortuna (1930 / 2008), encontrou um registo na paróquia de São Lourenço de Azeitão (concelho de Setúbal ), datada de 1613, referente ao batismo de um caramelo.

Posteriormente, em particular a partir do início do século XIX, assistiu-se à chegada de um grande número de trabalhadores gandareses ao concelho da Moita e arredores; se muitos desses trabalhadores regressavam às suas terras no final da época de trabalhos, a verdade é que volta de 1830, já viviam inúmeras famílias gandaresas na região, numa área que integra os concelhos de Palmela, Moita e Montijo. Mas é nos registos da Paróquia de Palmela, a partir de 1850 e particularmente após 1860, que comprovamos o movimento migratório massivo de gandareses que vieram estabelecer-se nesta freguesia, especialmente na área correspondente à atual vila e freguesia de Pinhal Novo.

É importante salientar que o Pinhal Novo não existia nessa época, era um território completamente despovoado, onde dois fatores fundamentais se conjugaram para dar origem a uma nova povoação que não parou mais de crescer até aos nossos dias: em primeiro lugar, a construção do primeiro troço de caminho-de-ferro a sul do rio Tejo (inaugurado em 1857), com passagem neste território; em segundo lugar, o casamento de D. Maria Cândida Ferreira Braga, Baronesa de São Romão (1815-1878), proprietária destas terras, com José Maria dos Santos (1831 / 1913), veterinário lisboeta, em 1857. Este abandonou a sua profissão para se dedicar à gestão das propriedades da mulher; impulsionado pelo caminho-de-ferro, que veio permitir o escoamento dos produtos agrícolas, este proprietário decidiu tirar o máximo proveito das suas terras; como a mão-de-obra era insuficiente, recorreu aos trabalhadores gandareses e do baixo mondego, fixando-os através de um processo de colonização de terras; segundo Oliveira Martins, José Maria dos Santos fixou “ 400 casais ocupando 2.000 hectares divididos em courelas de 4 a 6 hectares. Os colonos foram implantados por contratos de arrendamento e procedem da Beira. Pagam a renda de 1$000 reis por hectare “ [Martins, Oliveira (1956), Fomento Rural e Emigração, Lisboa, Guimarães Editores, pág. 47]. Quando faleceu, em 1913, José Maria dos Santos deixou as terras arrendadas, em testamento, aos seus rendeiros. Concluindo, a influência gandaresa impôs-se na região, na arquitetura das casas, nas tradições agrícolas, na gastronomia, no vestuário e na linguagem.

Pessoalmente, posso comprovar que os meus antepassados gandareses que se fixaram nesta zona foram essencialmente meus trisavós e quartos avós e todos se instalaram entre os concelhos da Moita, Palmela e Montijo, mas a maioria fixou-se precisamente na área de Pinhal Novo. A maioria veio das antigas freguesias da Tocha e de Cadima; outros, em menor número, vieram de Mira, Arazede, Ferreira-a-Nova e Quiaios. Tenho verificado que muitos dos apelidos observados nos registos paroquiais das freguesias gandaresas são vulgaríssimos no território de Palmela, Montijo e Moita. Por outro lado, muitos deles foram substituídos por alcunhas ou pelos topónimos de origem destes antepassados, os últimos dos quais são hoje relativamente comuns; como exemplos, posso citar os sobrenomes Amieiro, Cadima/Cadimas, Cantanhede, Carromeu, Mira, Pelixo / Pelicho, Ramalheiro, Seixo, Tocha. Finalmente, é importante salientar que as migrações dos gandareses para esta região não se limitaram a esta época, pelo contrário, elas estenderam-se pelo século XX, tendo como principal destino a grande Herdade de Rio Frio, que já foi considerada a maior da Península Ibérica, propriedade de José Maria dos Santos. O fenómeno das migrações dos gandareses para a região tem sido alvo de vários estudos, principalmente no Pinhal Novo, cuja Junta de Freguesia editou, nos últimos anos, uma coleção dedicada à história e às origens desta vila e freguesia, intitulada “ Origens e Destinos “. Uma das obras publicadas, da autoria de José Cabrita, intitula-se precisamente: “Entre a Gândara e a terra galega”.

Célia Gomes


Localização da Vila de Pinhal Novo, no Concelho de Palmela:


A Península de Setúbal:

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Os Moinhos de Água dos Cantos da Fervença:

Na aldeia dos Cantos da Fervença, no Concelho de Cantanhede, existe um pequeno núcleo de moinhos de água, composto por três edifícios distintos. Todos aparentam estar bem cuidados, tendo passado por obras de conservação em anos recentes.

Pelos dados de que disponho, penso que a aldeia dos Cantos da Fervença está actualmente integrada na Freguesia de São Caetano, embora tenha feito parte da Freguesia de Cadima até há poucos anos atrás. Por curiosidade, nesta zona do Concelho de Cantanhede existem três aldeias vizinhas com nomes relacionados, mas pertencentes a três freguesias distintivas: Fervença (Freguesia da Sanguinheira), Olhos da Fervença (Freguesia da Cadima) e Cantos da Fervença (Freguesia de São Caetano)! Singularidades das divisões administrativas portuguesas!

Neste post apresento um vídeo e várias fotos destes moinhos, realizados a partir de imagens recolhidas em Dezembro de 2012 e Outubro de 2014, em ambas as ocasiões durante caminhadas matinais de algumas dezenas de quilómetros, que me permitiram enriquecer bastante o meu espólio fotográfico pessoal. Dois dos três sons que incluí neste vídeo (sons de água a fazer funcionar um moinho), foram obtidos na caminhada de Dezembro de 2012, no único moinho de água que ainda se encontra em funcionamento na vizinha localidade dos Olhos da Fervença. (Clicar para ver o post sobre este moinho e o respectivo vídeo!)

Na segunda caminhada matinal, em Outubro de 2014, encontrei um dos moinhos aberto e em funcionamento. A sua proprietária e/ou moleira, uma senhora idosa cujo nome desconheço, foi simpática e permitiu-me filmar o interior do moinho em funcionamento. Nessa ocasião, o moinho estava regulado para produzir "milho partido", ao invés de farinha, como é normal nos moinhos. Esta é um produção alternativa que vai permitindo manter alguns dos moinhos da Gândara em funcionamento, quando as encomendas para produzir farinha escasseiam.

O "milho partido" é obtido quebrando o grão em apenas alguns pequenos pedaços, ao contrário da farinha, em que o grão é reduzido a pó. Este milho partido é utilizado na criação de aves domésticas (galinhas, patos...), como primeiro alimento das aves durante as suas primeiras semanas de vida, quando ainda não conseguem comer os grãos de milho normais, grandes de mais para os seus minúsculos bicos.

Para finalizar o artigo, refiro que nas proximidades destes moinhos existe uma curiosa ponte pedonal (ver as últimas duas fotos), bastante conhecida entre aqueles que costumam fazer caminhadas ou praticar BTT nesta zona.


The Watermills of Cantos da Fervença:

In the village of Cantos da Fervença, in the Municipality of Cantanhede, there is a small group of water mills, composed by three distinct buildings. All appear to be well maintained.

From the data I have, I think the village of Cantos da Fervença is currently part of the Civil Parish of São Caetano, although it has been part of the Civil Parish of Cadima, a few years ago. Out of curiosity, in this area from the Municipality of Cantanhede, there are three neighboring villages with related names, but belonging to three different civil parishes: Fervença (Civil Parish of Sanguinheira), Olhos da Fervença (Civil Parish of Cadima) and Cantos da Fervença (Civil Parish of São Caetano)! Singularities of the Portuguese administrative divisions!

In this post I present a video and several photos of these watermills, made from images collected in December 2012 and October 2014, in both occasions during long morning hikes, in which i took lots of photographs in different places. Two of the three sounds included in this video (the water sounds), were obtained in the hike of December 2012, in the only watermill still in operation in the nearby village of Olhos da Fervença. (Click here to see the post about this watermill,  also with a video!)

During the second morning hike, in October 2014, I found one of the mills open and running. The miller, an old lady whose name i don't know, was friendly and allowed me to film the interior of the mill, when it was working. At that day, this watermill was set to produce "milho partido" (can be translated to "broken corn"), instead of flour, as it is normal in the watermills or windmills. This is an alternative production, that allow to keep some of the watermills in operation, when there are no orders to produce flour.

The "broken corn" is obtained by breaking the grains in only a few small pieces, unlike flour, where the grains are reduced to powder. This "broken corn" is used in the traditional poultry production (chickens, ducks...), as the first food of the birds, during their first weeks of life, when they can not eat normal corn, since the grains are too large for their tiny beaks.

Near the watermills, there is an odd and narrow pedestrian bridge (see the last two pictures)!






























Localização / Location:

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Pele de Cobra no Quintal:

Depois de mais um período de ausência (tenho-me andado a baldar um pouco), estou de volta ao blog!
Hoje apresento algumas fotos de uma pele de cobra descoberta no meu quintal há poucas semanas, em Maio de 2015. O quintal localiza-se na Tocha, na Freguesia da Tocha e Concelho de Cantanhede.
Uma cobra resolveu mudar de pele no quintal, deixando o curioso presente que as fotos documentam. Penso que se trate da pele de uma Cobra-rateira (Malpolon monspessulanus), a maior espécie de cobras de Portugal. 
A fita métrica encontra-se aberta a 1,70 m (170 Cm). Uma vez que a pele se encontra encurvada, estimo que o comprimento real da sua antiga dona se situe algures entre o 1,75m e 1,90m. Uma senhora cobra, portanto, para os padrões portugueses!
Apesar do seu tamanho, esta espécie de cobras é praticamente inofensiva para o ser humano. Neste aspecto, Portugal é um país com sorte, pois não tem espécies de cobras tão grandes, venenosas e perigosas como as de outras áreas do globo, onde todo o cuidado é pouco ao lidar com elas.

Snake skin in my backyard:

Hello, i'm back to the blog!

Today, i present a few pictures of a snakeskin, found a few weeks ago in my backyard, in May of 2015. The backyard is located in the Town of Tocha, in the Civil Parish of Tocha and Municipality of Cantanhede.

A snake decided to change the skin in my backyard, leaving behind this curious gift. I think this is a skin from a "Cobra-rateira", portuguese name of the Montpellier Snake (Malpolon monspessulanus), the largest species of snakes in Portugal.

The tape measure (shown on the pictures), is open to 1.70 m (around 5.58 feet). As the skin is not streched, but curved, i think that the actual length of this snake was somewhere between 1.75m and 1.90m ( 5.74 to 6.23 feet ). To the portuguese standards, this is a big snake, although considered small or average in other areas of the world.

Despite its size, this species of snakes is virtually harmless to humans. In terms of snakes, Portugal is a lucky country, because it has no species of snakes very large, very poisonous or very dangerous, as many species of snakes from other areas of the globe, where people have to be very carefull with them.